Neste Cardio Talks, programa do Núcleos para Cardiologistas, Dr. Cláudio Tinoco aborda a "Quantificação da Isquemia na Cintilografia de Perfusão Miocárdica".
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Doença Coronariana
Como se desenvolve a doença coronariana?
A doença coronariana é o resultado da formação de
placas de aterosclerose, que são placas de tecido fibroso e colesterol, que
crescem e acumulam-se na parede dos vasos a ponto de dificultar ou mesmo
impedir a passagem do sangue. O crescimento desta lesão pode ser acelerado por
fumo, pressão alta, colesterol sanguíneo elevado e diabete. A doença é mais
frequente à medida que envelhecemos mas não é uma consequência natural do
envelhecimento. Também manifesa-se mais tardiamente nas mulheres, após a
menopausa, provavelmente devido à proteção conferida pelos hormonios femininos.
Uma história familiar de doença coronariana torna a pessoa mais predisposta.
Quando o entupimento da artéria pela aterosclerose
envolve mais de 50 a 70% do seu diâmetro, o fluxo sanguíneo torna-se
insuficiente para nutrir a porção do coração irrigada por aquela artéria
doente, especialmente quando a necessidade de oxigênio é maior, como durante
exercício físico. A irrigação inadequada de uma determinada região, levando-a
ao sofrimento e expondo aquele tecido ao risco de morrer denomina-se isquemia.
A isquemia, se prolongada, pode provocar a morte do tecido e este fenomeno se
denomina infarto. Quaisquer regiões do corpo podem sofrer isquemia ou infarto.
Quando isto ocorre no coração, os termos utilizados são isquemia miocárdica e
infarto do miocárdio. Ambas as situações são percebidas pelo paciente na
maioria das vezes como dor no peito. Coração dói, sim, ao contrário do que
imagina a população. Mas dói quando sente falta de irrigação sanguínea, ou
seja, quando fica isquêmico. A dor percebida durante um esforço físico e que
desaparece com a interrupção deste esforço é denominada "angina de
peito". Infelizmente, cerca de 25% dos pacientes podem ter isquemia
miocárdica sem experimentarem qualquer dor, embora estejam sujeitos ao mesmo
risco de sofrer um infarto do miocárdio e possam ter os sinais da doença
documentados por um eletrocardiograma de esforço, por exemplo. Esta situação
denomina-se isquemia silenciosa e é bastante frequente em diabéticos.
Geralmente o infarto do miocárdio ocorre quando um
coágulo sanguíneo se forma sobre uma placa aterosclerótica e obstrui-a subita e
completamente. Às vezes, um "filete" de sangue ainda passa, deixando
o coração isquêmico, fazendo com que o paciente sinta dor mesmo estando em
repouso, mas permitindo que o músculo cardíaco sobreviva. Esta situação
denomina-se "angina instável" e, como o nome já diz, é um estado
muito instável, pois o infarto do miocárdio pode instalar-se a qualquer momento.
Quais os exames úteis para diagnosticar a
doença coronariana?
Eletrocardiograma comum ou em repouso - É um
registro da atividade elétrica do coração e pode fornecer várias informações,
inclusive sobre a presença de sofrimento do coração por isquemia. No entanto, o
paciente pode ter obstruções arteriais por doença coronariana e exibir um
eletrocardiograma normal, pois em repouso, a obstrução ou obstruções existentes
permitem a passagem de uma quantidade suficiente de sangue para irrigar aquele
músculo que não está sendo exigido por um esforço maior.
Teste de esforço ou ergometria - É uma forma de
tentar compensar esta deficiência do eletrocardiograma em repouso. Em sua forma
mais simples, o paciente exercita-se numa esteira ou bicicleta ergométrica,
enquanto o eletrocardiogrma, o pulso e a pressão arterial são registrados, de
modo a sobrecarregar o coração e tentar evidenciar algum sinal de isquemia.
Este exame, quando aplicado em indivíduos com alguma probabilidade de
apresentar a doença, consegue diagnosticá-la em 60 a 70% dos casos.
Formas mais sofisticadas, mas baseadas no mesmo
princípio de sobrecarregar o coração, são a cintilografia miocárdica ou o
ecocardiograma sob stress. Nestes casos, ao invés do eletrocardiograma,
obtêm-se imagens representativas do estado de irrigação do músculo cardíaco
submetido a uma sobrecarga. Estes métodos são mais apurados do que o teste
ergométrico comum para diagnosticar a doença, mas são também mais caros e devem
ser utilizados em casos selecionados.
Cateterismo cardíaco com cinecoronariografia -
Cateterismo significa introduzir um pequeno tubo flexível através de um vaso
sanguíneo ou conduto, a fim de permitir injeção de substâncias ou contraste
radiológico ou então medir pressões dentro de vasos ou cavidades. No caso do
cateterismo cardíaco, o tubo, chamado de "cateter" é introduzido
através do braço ou virilha sob anestesia local e avançado até o coração e
artérias coronárias, onde são feitas injeções de contraste radiológico. Assim,
é possível visualizar, através de raios-X, as artérias e localizar com precisão
a forma, a extensão e a gravidade das obstruções encontradas. Embora seja o
método ideal para diagnosticar a existencia da doença, sua indicação obedece a
critérios muito específicos, pois é dispendioso, invasivo e envolve radiação.
Além disso, este método, na maioria das vezes, não é capaz de, por si só,
definir a conduta a ser tomada em relação ao paciente, sendo para isto
necessária uma boa avaliação clínica e, frequentemente, um
teste"provocativo" (esforço, cintilografia, etc).
Como se trata clinicamente a doença
coronariana?
São três os objetivos primordiais do tratamento
medicamentoso: Diminuir o trabalho cardíaco, adaptando, assim, o consumo de
oxigênio à oferta limitada; melhorar a oferta de oxigênio e diminuir a coagulabilidade
do sangue. Os bloqueadores beta como o propranolol (inderal) o atenolol
(atenol) ou o metoprolol (seloken) cumprem eficazmente o primeiro objetivo. O
segundo é obtido às custas dos vasodilatadores como o mononitrato (monocordil)
ou o dinitrato (isordil) de isosorbitol, além de bloqueadores dos canais de
calcio como nifedipina (adalat, oxcord) nitrendipina (nitrencord) amlodipina
diltiazem (cardizem, diltizem) ou verapamil (dilacoron). A aspirina em baixas
doses é o principal medicamento utilizado para reduzir a coagulabilidade
("afinar o sangue") e a ticlopidina (ticlid) é outra alternativa para
se obter este efeito. A heparina, um anticoagulante administrado por via
venosa, é reservada aos casos de angina instável requerendo internação em
unidade coronariana.
Exercícios físicos aeróbicos individualizados e
redução enérgica e determinada do colesterol, por dieta e/ou medicamentos são
parte essencial da terapia clínica.
Quando devemos tratar mais agressivamente a
doença coronariana?
- Quando, apesar do tratamento clínico,
persistirem os sintomas ou os sinais de isquemia.
- Diante de um episódio de angina instável
não-controlada por medidas clínicas.
- Quando houver redução documentada da
contratilidade do coração (regiões que se contraem mal ou não se contraem) cuja
natureza é isquêmica, ou seja, áreas extensas de "mau fucionamento"
vistas ao ecocardiograma, cintilografia ou cateterismo, que podem colocar em
risco imediato a vida do paciente, mas cujo funcionamento pode ser
imediatamente restaurado através de uma intervenção mais agressiva.
Outras indicações existem, mas as três acima
mencionadas são as mais comuns.
Nesses casos, que alternativas existem?
A solução consiste essencialmente em aumentar o
fluxo de sangue para o coração, seja 1. "abrindo passagem" através de
angioplastia transluminal percutânea (dilatação das lesões com balão) 2.
Mantendo a passagem aberta após uma angioplastia através de dispositivos
metálicos inseridos através do cateter (colocação de "stent") ou 3.
Criando condutos alternativos para que o sangue desvie-se da lesão,
ultrapasse-a e reencontre seu leito normal mais adiante (cirurgia de
revascularização miocardica, ou "bypass" ou ponte de safena ou
mamárias). As três alternativas serão discutidas nos setores a elas destinados.
Fonte: http://sociedades.cardiol.br/socerj/