O princípio parece saído de um filme que mistura ficção científica e alquimia. O paciente vai a uma clínica médica e retira uma quantidade pequena de sangue, algo como 40 ml. Depois disso, esse material é levado até um laboratório e passa por um processo minucioso para que as células de defesa do organismo, conhecidas como leucócitos, possam ser marcadas com um elemento radiativo. Como resultado, esses leucócitos marcados se transformam em uma espécie de sinalizador que, após retornarem ao organismo, permitem aos médicos visualizarem com precisão focos de infecções perigosas à saúde do paciente.
Embora pareça distante, o conceito já é uma realidade inclusive no Brasil. O exame da Cintilografia com Leucócitos Marcados é uma das armas da Medicina Nuclear, especialidade médica que lida diretamente com elementos radioativos para realizar diagnósticos e tratamentos. O Grupo Núcleos, pioneiro em Medicina Nuclear no Centro-Oeste do País, possui as únicas clínicas da região que contam com a estrutura necessária para disponibilizar a os exames com leucócitos marcados.
"Utilizando o que conhecemos como radiofármacos, compostos desenvolvidos para fazerem que elementos radiativos cheguem a partes específicas do corpo, conseguimos chegar a um nível refinado de diagnóstico por imagem. Essa radiação é captada por aparelhos como a Tomografia Computadorizada, o que nos permite chegar a imagens moleculares do organismo, visualizando focos de doenças que seriam invisíveis de outra forma", explica Cláudio Tinoco, médico nuclear e integrante do Grupo Núcleos.
É o caso da Endocardite Infecciosa (EI), espécie grave de infecção que acomete as válvulas do coração e, se não diagnosticada a tempo, pode se espalhar pelo corpo e levar o paciente a óbito. O Brasil não possui dados consolidados sobre a doença, mas sabe-se que ela afeta duas vezes mais homens do que mulheres de todas as idades e oito vezes mais homens idosos do que mulheres idosas. Mais de um quarto dos casos acontece entre pessoas com mais de 60 anos, principalmente pela associação com o procedimento de substituição de válvulas cardíacas em decorrência de problemas com as originais.
"A endocardite infecciosa é uma condição que vem se tornando mais frequente na prática médica. Os sintomas mais comuns são febre, queda do estado geral, sintomas decorrentes de alterações nas funções das válvulas do coração, como falta de ar e dor no peito, além de sintomas decorrentes de embolias dos fragmentos infecciosos como alterações neurológicas ou na irrigação dos membros superiores ou inferiores. Em muitos pacientes ainda podem haver manifestações imunológicas como dores articulares, nódulos subcutâneos e redução da função renal. A presença de um sopro no coração ou de uma condição predisponente como doenças valvares aumenta a suspeição do médico para a condição", pontua Tinoco.
Ele ainda explica que o diagnóstico laboratorial é fundamentado nas culturas do sangue e no ecocardiograma. Quando o ecocardiograma é limitado, como no caso de cirurgias prévias das válvulas cardíacas ou em pacientes com marca-passos, a medicina nuclear tem um papel muito relevante na identificação da infecção no coração. "Outra indicação, mesmo em pacientes sem próteses cardíacas ou dispositivos implantados, é na detecção das complicações embólicas e infecções à distância, pois o exame nuclear, com sua capacidade de rastrear o corpo inteiro, tem uma excelente sensibilidade", diz.
É pela somatória desses fatores que desde 2015 a Sociedade Europeia de Cardiologia recomenda a utilização da Cintilografia com Leucócitos Marcados e da Tomografia por Emissão de Pósitrons, outro exame da medicina nuclear, como padrão ouro na investigação de endocardite infecciosa.
"Em linhas gerais, a Cintilografia é indicada para a investigação de infecções logo após procedimentos cirúrgicos, até três meses depois, para ser exato. Após isso, a principal indicação é a do PET/CT, como é conhecida a Tomografia por Emissão de Pósitrons. Em ambos os casos a precisão das imagens obtidas pela medicina nuclear é fundamental para a tomada de decisão no tratamento", explica o especialista.
Utilizando a radioatividade como forma de contraste para a captação das imagens, os exames permitem ao médico visualizar a infecção com acurácia, assim como eventuais complicações. Uma vez que o quadro infeccioso pode se agravar pela corrente sanguínea, em casos mais graves e avançados é possível que ela acabe saindo do coração e se disseminando para outros órgãos.
"Com a Medicina Nuclear conseguimos investigar de maneira não invasiva a existência ou não de abcessos no baço do paciente, assim como casos de infecção óssea. Ao saber exatamente para onde a doença se espalhou e quais outros órgãos acometeu, o médico consegue escolher que droga utilizar, assim como a necessidade ou não de novos procedimentos cirúrgicos. Outra coisa importante é que essas informações podem ser acessadas sem a necessidade de procedimentos invasivos, resguardando a saúde do paciente", finaliza.